Sobre ser preciso de uma vila para se criar uma criança




Dizem que é preciso de uma vila para se criar uma criança. Então por que a paternidade e a maternidade são tão solitárias hoje em dia?



Um fato é claro, nós nunca gostamos de gente se intrometendo na nossa vida. Chegamos ao ponto da nossa vida em sociedade onde todo mundo tem opinião sobre tudo - mas nunca pode ser sobre o nosso dia a dia. Não suportamos qualquer tipo de intromissão. Isso já começa quando estamos grávidas. Não importa a boa vontade da pessoa, se vier com conselho para cima da nossa barriga, já temos um pé atrás.



É comum a criança nascer e os pais se isolarem em seus cuidados. Há um tempo atrás, nem tanto tempo assim - podemos pensar até nos anos 90 -, era mais comum ter a presença constante de vizinhos e parentes dentro de nossa casa. Quando uma criança nascia, se tornava responsabilidade de todos. Os pais, obviamente, são os responsáveis mór. Mas era possível contar com os avós, tios, primos e vizinhos nos cuidados com aquele ser que estava começando a conhecer o mundo. Celular era coisa para poucos, internet não servia muito para lazer e a maioria dos contatos era feita por telefone ou pessoalmente. As pessoas estavam mais próximas fisicamente. 



Hoje em dia, falamos com todos o tempo todo. A distância virtual basicamente não existe. Mas a distância física está cada vez mais presente. As pessoas ficam sabendo que uma criança nasceu a partir de uma postagem do Facebook. Pedem notícias por whatsapp. Postergam cada vez mais fazer algum tipo de visita, afinal, recebem todos os dias atualizações sobre o desenvolvimento do bebê. Enquanto isso, a mãe e o pai veem seu mundo se fechar dentro da sua casa. Estão vivendo um momento especial, mas dividido com quase ninguém. A maternidade se torna algo solitário que mãe compartilha com grupos de desconhecidos nas redes durante sua licença, em uma tentativa de não surtar - ou de achar empatia e vivências semelhantes. O pai volta para esse universo cada vez mais tarde, em um mundo no qual é preciso se passar muito mais tempo do que se gostaria no trabalho. Seja por necessidade, seja por fuga do papel que ainda não aprendeu a assumir. E toda aquela aldeia que cuidava de uma criança na década de 90 não existe mais. Não conhecemos nossos vizinhos, os pais moram longe e têm sua vida pessoal para cuidar, os sogros você arranjou alguma briga no início na gravidez e mal visitam a criança. Nisso, sobra a mãe, sozinha nos cuidados com o bebê. Cheia de dúvidas que o universo virtual só ajuda a aumentar.



É preciso de uma vila para se criar uma criança pois educar um novo ser humano não é fácil. É preciso dedicação, cuidados, exemplos. É preciso amor, carinho e tempo. É preciso entender que o filho é nosso, mas o criamos para o mundo. Ele será cidadão do mundo assim que desgarrar da gente e precisa entender com diferentes pessoas como se portar. Em uma vila heterogênea, a criança aprende a reconhecer atitudes diversas, aprende a se portar, aprende a conviver. Em um universo formado apenas por seu pai e sua mãe, uma criança tem seu universo limitado tanto quanto seus pais têm seu convívio social. Se os pais precisam de alguém para dar uma força quando eles querem fazer programas de adulto, a criança precisa de alguém em quem possa confiar para ficar nesse tempo. É preciso entender que avós, tios, amigos e vizinhos são figuras essenciais na criação de uma criança. Abrir os campos, os olhos, os braços. Aceitar os abraços e as tentativas de ajuda daqueles que mesmo em um mundo cada vez mais distante e julgador, ainda querem apenas nos ajudar. Pois não há uma receita de bolo exata para se criar um filho, mas podemos deixar que cada um que faz parte de sua vidinha traga algum ingrediente para ajudar a dar liga. Pelo bem da criança, pelo bem os pais, pelo bem da humanidade. Deixe a vila ajudar a criar seu filho. Isso não é delegar. É simplesmente aceitar que o ser humano não foi feito para viver sozinho. 



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