Sobre gravidez não é doença, mas...



Você com certeza já ouviu a máxima do "gravidez não é doença". É uma verdade, mas nem sempre empregada da melhor forma. Eu era uma das pessoas que adorava o "gravidez não é doença". "Você está gestando uma vida, não está doente". O que no fundo essas pessoas querem dizer? Não reclame, viva. Trabalhe, faça exercícios, coma direito, pegue fila com todo mundo, ande, fique de pé, você só está grávida. É uma coisa legal para se acreditar, se a história não fosse bem assim sempre. 



Eu sempre me imaginei como uma grávida ativa: fazendo exercícios, comendo direitinho, trabalhando, planejando as coisas, sem parar um segundo. Mesmo com problemas prévios de saúde que eu já tinha. Uns meses antes de engravidar, eu estava no ápice da minha vida agitada: trabalhando de casa para três freelas diferentes, dois blogs, fazendo exercícios aeróbicos duas vezes por dia, pilates duas vezes por semana, dirigindo para lá e para cá e ainda não queria passar o fim de semana dentro de casa. Tava no mode on da aceleração. Até que, dei de cara no chão. Ok, não de cara, de bunda mesmo: um tropeço numa escada fez eu cair com tudo de uns 2 metros de altura e quebrar meu cóccix e uma vértebra do sacro. Se você nunca quebrou um osso nessa região, deixa eu te explicar: sua vida meio que para. Porque você não pode engessar. Você não pode tomar remédio para dor - que tipo de remédio existe para dor de osso quebrado? A dor, aliás, já me disseram que é pior que dor do parto - fico feliz, quero um parto normal, então significa que essa dor eu já aguentei. E ele leva mais ou menos de seis meses a um ano para se recuperar completamente. O que significa? Mode off na aceleração. 



Toda aquela rotina de exercíciotrabalhodirigirbaterpernaetcetcetc virou um "ir-para-a-fisioterapia-de-uber-com-uma-almofada-no-banco-e-me-entupir-de-doces-para-meu-psicológico-lidar-com-a-dor". Sabe o que é viver 24h por dia com dor, sem posição para dormir e muito menos para sentar? Quebra o cóccix. Eu tive muita sorte na vida: em três meses, meus ossos quebrados colaram. Toda a rotina de ortopedista e fisioterapeuta (e Deus abençoe a minha irmã fisio), mais os repousos, fizeram com que a recuperação fosse um pouco mais rápida. Acho que os brigadeiros diários também. Brigadeiros salvam vida. Fui liberada para voltar a me exercitar aos poucos e recomecei pilates, alguns aeróbicos mais leves e caminhada (ainda não dava para correr: o osso cola, mas a dor compensatória fica e só sai com muito RPG e fisio). Fui liberada para engravidar também. Tudo isso para dizer que: um mês depois que meus ossos colaram, meu bebê chegou a minha barriga. A impressão que eu tenho é que ele olhava lá de cima "força mãe com essa recuperação, to querendo chegar". 



Como eu estava recuperando minha vida fitness, mantive a rotina no começo de gestação, afinal, gravidez não é doença e não tinha motivos para eu mudar tudo por ela, eu precisava seguir minha vida contanto que não tivesse nada de alto impacto: andava 6km por dia, fazia pilates, batia perna sempre que dava - a gente precisa fazer o sangue circular, não é mesmo? -, comia doces quando queria, sentava quando dava, descansava quando dava. Eu tinha certeza que estava fazendo o melhor pelo meu bebê e por mim - ele precisa de uma mãe saudável! - e pof, o destino veio me dar um acalma aí mais uma vez: por volta de 9 semanas, depois de dias corridos de médicos - endocrino, nutricionista, cardiologista (conto sobre isso outra hora) - e muita bateção de perna, fui pega de surpresa por cólicas e um sangramento no meio da madrugada. Era o Estroncio já mostrando que os filhos veem ao mundo para testar nossas funções cardíacas. 



Corre por hospital, faz exame, desespera família e descobre que o bebê está lá, lindão graças a Deus, se mexendo todo, mas você foi acometida por um probleminha de começo de gravidez que atinge muitas mulheres: um descolamento ovular, seguido de um hematoma subcorionico. O que significa: o saquinho gestacional que carrega meu bebê, minúsculo nessa época, estava descolando. Em um grupo de seis amigas, pelo menos quatro passaram por isso. É bem comum, mas assusta. Nenhuma grávida quer acordar com um sangramento, você nunca pensa muito bem sobre isso. A recomendação é repouso, não fazer esforço, não ter estresse e focar suas energias todas na gravidez. Além de usar remédio. Foram dois meses de muito cuidado, seguidos por um medo maior na gestação. O que resultou no: gravidez não é doença, mas péra. Não dá para querer manter o mesmo ritmo, não dá para acelerar o ritmo, calma que 40 semanas passam rápido e vamos prestar atenção no que precisa ser feito para gestar bem essa vidinha em formação.



Não, gravidez não é doença. Mas ah não ser que você seja  uma musa fitness do instagram, você relembra que esse é um período no qual é preciso tomar muito cuidado. Você está gerando uma vida, o seu corpo está se transformando, você está se transformando. Você pode ter enjoo, você pode ter cólicas todo o dia, o seu corpo descobre novas dores pela transformação que você nem sabia que poderia ter. Você incha, ganha peso, perde o seu centro de gravidade. Você é atingida por uma chuva de hormônios que definitivamente são incontroláveis e te faz ter saudade de quando você reclamava de três dias de tpm. Sua pele muda, seu cabelo muda, até os pelos no seu corpo mudam. É um aviso da natureza de que sua vida não será mais a mesma. Te vem o cansaço, o nervoso, a indisposição. E você pensa: vou tratar bem todas as grávidas que eu achar pela rua e pelo mercado de trabalho, porque só a gente sabe o esforço que elas estão fazendo para manter a sanidade nesse período. Não são todas que passam por isso? Não. Algumas encontram a disposição que não tiveram a vida toda. Mas é preciso não medir os outros por sua própria régua e lembrar que o comum é que esse período tão iluminado na vida venha com uma série de transformações. Não é porque uma grávida de 7 meses dança até o chão na Sapucaí que a grávida na fila preferencial do banco está sofrendo a toa. 



E respeitar, respeitar sempre quando uma grávida precisa de ajuda, precisa de descanso, precisa sentar, precisa da fila preferencial, porque carregar uma nova vida é uma dádiva, mas nem sempre as dádivas são fáceis. É um momento delicado que exige uma série de cuidados e atenção. Porque tudo isso compensa, tudo isso é esquecido, e tudo isso se transforma. Gravidez não é doença, mas exige atenção e cuidados de todos que cercam a vida daquele bebê. Cada corpo é um corpo, e respeite o seu quando ele diz que precisa seguir um novo ritmo. Te garanto: vai sempre valer a pena!





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